No conto Tarde de Chuva, um diálogo imaginário entre personagens faz um bom resumo da importância do livro Leves Sombras, de Luiz Eudes. “Parecia mais um final de tarde como outro qualquer, crianças andavam na praça, árvores balançavam folhas secas, homens conversavam alegremente.”, diz um dos trechos.
E é isso. Ao longo de pouco mais de noventa páginas, o baiano Luiz Eudes mostra, de forma forte, impactante e necessária, o ir além dos contos regionais que são retratadas de forma estereotipada, ou rasa, em filmes, livros, séries e coisas do tipo. A obra vai além e fala sobre todas as variantes que uma relação entre pessoas e terra pode haver.
Há a descoberta do amor na infância (no excelente Noite de Festa), há as coisas que saem dos trilhos (na divertida Rádio de Pilha), há coragem e empatia (com o fortíssimo conto Valdirzão, o nosso herói).
São diversas camadas que compõem essa narrativa que forma uma única linha temática. E, o melhor de tudo, é que Luiz Eudes não se atém num único formato para contar suas histórias – maior erro de contistas, sem dúvidas. Há histórias que reproduzem conversas, outras que partem para uma verborragia mental. São vários tipos de narrativas que ajudam a dinamizar um livro de apenas um tema, ainda que o leque de possibilidades em cima das relações seja quase infinito. Eudes vai muito bem!
Dentro de todas as histórias, claro que algumas se destacam frente a outras. As A Louca e Os músicos são enérgicas, fortes e realistas – o fim desta segunda é sensacional, no ponto.
Afinal, ao contrário do que pode parecer num primeiro momento, não há um foco único no Sertão, mas nas relações. São coisas pouco faladas, ou até mesmo não ditas, e que ajudam a tirar essas imagens caricatas da cabeça. São histórias que naturaliza situações.
Em suma, um livro forte, necessário, atual. Faz quebrar paradigmas, estereótipos e, principalmente, dá voz ao mundo interiorano, regional.
Por Ramon Reis
Da redação